PGR fala em “criminoso de sangue” e num “juiz estranho”
“Delinquente por tendência”, tal como o catalogou Augusto Paulino, ou “criminoso de sangue”, tal como o trata agora a Procuradoria da Cidade, Momade Assif Abdul Satar, conhecido como “Nini” Satar, voltará a sentar-se no banco dos réus para responder por “autoria moral de dois crimes de rapto, sendo um na forma tentada e outro na forma consumada; associação para delinquir; uso de armas proibidas e roubo qualificado”.
“Nini” Satar é arguido no processo 131/PCM/2017, acusado pela Procuradoria da Cidade de Maputo e remetido ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, na quarta-feira, dia 18 de Setembro. “Na sequência da prisão de Nini Satar na Tailândia foi concluído o processo número 131/PCM/2017 que estava pendente desde que o mesmo foi posto em liberdade condicional e fugitivo desde meados de 2015”, lê-se num documento da Procuradoria da Cidade de Maputo, a que o “Canalmoz” teve acesso, que refe que “Nini” Satar é acusado em autoria moral dos seguintes crimes: “rapto, um na forma tentada e outro na forma consumada; associação para delinquir; uso de armas proibidas e um crime de roubo qualificado.”
Trata-se de um processo que estava pendente desde que “Nini” Satar beneficiou de liberdade condicional e, a seguir, saiu do país. Os crimes de que “Nini” Satar é acusado foram cometidos, primeiro, durante a reclusão (quando cumpria a pena no “Caso Carlos Cardoso”, de 2011 a 2012) e, depois, quando beneficiou de liberdade condicional (2015 e 2016).
O documento da PGR manda indirectas ao juiz Adérito Malhope, que sempre emitiu decisões a favor de “Nini” Satar, incluindo a liberdade condicional e a permissão para sair do país. Segundo a Procuradoria, de 2011 a 2012 “Nini” Satar esteve directamente ligado aos raptos que assolaram o país, cujas vítimas eram maioritariamente comerciantes, para posterior extorsão mediante solicitação de avultadas somas a título de resgate.
Depois conseguiu uma liberdade condicional e saiu do país. Segundo a Procuradoria, “Nini” Satar, quando estava fora do país, reestruturou a sua organização criminosa, passando a contar com dois colaboradores directos, nomeadamente José Ali Coutinho e Edith Antónia Cylindo.
Há suspeitas de “Nini” Satar ter sido o autor do crime como parte de uma estratégia de destruição de provas. Edith Cylindo foi acusada de ter recolhido e fornecido informação utilizada para assassinar o procurador, Marcelino Vilanculos, em Abril de 2016, mas depois foi absolvida, em Janeiro deste ano.
“Um dia vou te chamar a minha casa para dizer que saí”
No dia 3 de Setembro deste ano, a Procuradoria realizou uma audição, na B.O., a “Nini” Satar, no âmbito da instrução preparatória, onde estiveram presentes os advogados, que incluem Flávio Menete, bastonário da Ordem dos Advogados.
“No dia 3 de Setembro, aquando da sua audição na B.O., durante a instrução preparatória, este cidadão ameaçou na presença dos seus advogados, designadamente Flávio Mente, Uriel Menete e Damião Cumbane o Procurador da República dizendo exaltado que …conhece o nome do Procurador e que ele Nini Satar está vivo e um dia vai sair da cadeia e vai lhe convidar a sua casa para dizer eu já sai e que há muitos procuradores e juízes que trabalham por má-fé que são mortos e que os procuradores precisam de aulas”, lê-se no documento da Procuradoria da Cidade que temos vindo a citar. (André Mulungo)