O padre Filipe Couto, uma das vozes críticas à morosidade no desfecho das negociações para a paz em Moçambique, agora prefere ser optimista.
Conhecido como vertical, o antigo mediador nacional do diálogo político entre o Governo e a Renamo, nos tempos do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, diz apenas que a prorrogação da trégua, de uma semana para dois meses, significa que “teremos paz e não vamos começar de novo a disparar”. Para Couto, que já assumiu o papel de porta-voz do grupo de mediadores nacionais do diálogo político entre o Governo e a Renamo que durou mais de cem rondas, “cepticismo pode valer muitas circunstâncias, mas neste caso nosso é melhor esperar com calma e serenidade”.
Quando questionado se era fácil esperar com calma e serenidade, tendo em conta o histórico deste sinuoso caminho rumo à paz, um percurso marcado por avanços, mas sobretudo por recuos, até nos momentos em que tudo parecia bem encaminhado, Couto, que em Maio de 2015, à saída da centésima quarta ronda do diálogo político, no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, visivelmente indignado com mais uma sessão improdutiva, disse que o Governo e a Renamo não podem continuar a enganar o povo, respondeu, esta terça-feira, que não vale a pena recordar o passado.
Entende o antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane que o mais importante é que houve prorrogação da trégua que espera seja para sempre.
À pergunta sobre o que terá mudado em Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama que, em dois anos, não se entendiam para pôr termo ao conflito, Couto simplesmente respondeu que os dois estão a trabalhar para a paz.
Para a embaixada dos Estados Unidos da América, que havia saudado a primeira trégua de uma semana, a “corajosa” liderança demonstrada pelo presidente da República e da Renamo, ao prorrogarem a cessação das hostilidades militares, representa um avanço significativo para uma paz duradoura. “É nossa esperança que, com base nesta conquista, o governo moçambicano e a Renamo possam demonstrar coragem igual na resolução das diferenças políticas que já perduram e estabelecer uma paz permanente e a base democrática necessária para o desenvolvimento sócio-económico de todos os moçambicanos”, refere aquela missão diplomática, numa mensagem enviada à nossa redacção, horas depois de Afonso Dhlakama anunciar, esta terça-feira, o prolongamento da trégua para 5 de Março próximo.
Savana